O clarín soa, é um anúncio de que o dia começa.
Eles querem ficar mais cinco minutinhos na cama, querem ser meninos,
querem matar aula, querem ser comuns de vez em quando. Não
desejam levantar guerreiros, imbatíveis, só ficar indefesos sob as
cobertas mais um pouquinho…
Em
forma, em marcha, em fila, estão embaixo do sol fraco da manhã que
nasce. Comem do pão que nunca é igual ao de casa, falta aquele
toque materno no café. E, novamente, em filas de três caminham
para as aulas. Sentem-se sozinhos, às vezes, nos corredores
extensos de janelas que não dão para a casa da vizinha, com suas
calcinhas penduradas e seu papagaio tagarela, dão para uma floresta
verde e fechada. Onde está o mundo, meu Deus, que sinto saudade de
ver. Está lá fora e não se pode ver ainda. É preciso aprender e
aprender, pois um dia, quem sabe, seja preciso salvá-lo com a
própria morte.
À
noite, mesmo as quentes, com seus mosquitos e cigarras, nunca são
as mesmas noites de quando está com ela. Ela, aquela menina na foto
da carteira, na tela do celular. A dona da sua esperança. Quando
tudo parece difícil demais de se enfrentar, ele lembra com força e
fé que por ela ainda vale a pena. Sua menina acredita nele. Seus
pais o amariam mesmo se ele os desapontasse, mas ele jamais gostaria
que ela descobrisse que não era forte.
O
corpo dói com os exercícios, a cabeça está cheia, o peito
repleto de saudade, mas ele não deixa perceber ao telefone, entrega
apenas o silêncio e devolve a falta de palavra, em lugar de
reclamações.
O
clarín toca, as luzes se apagam. Queira ou não, é hora de dormir.
Mais um dia para nós, mas para quem vive ali, menos um dia, é
assim que se conta.
Após
a adaptação, eles se tornam irmãos. Irmãos que trocam palavras
amigas, que emprestam material, que riem juntos. São churrascos,
festas, comemorações, tudo é motivo para celebrar as conquistas
de cada prova, cada treinamento, cada ano concluído. Surge uma
música no batuque dos dedos na mesa, ou em um som colocado em um
canto, em cima de alguma mureta.
Quando
chegam os feriados, lá estão os “irmãos de armas” dormindo um
na casa dos pais do outro. Fazem agora parte da mesma família! Qual
deles nunca se viu por acaso vestindo a camisa do outro? Parecem um
só, a vida de todos se confundem. São tantos caminhos dentro dos
“ônibus especias fretados”…
As
músicas animadas nos alojamentos mostram a cultura do Brasil. É o
som gaúcho, o sertanejo, o funk, o techno, o axé, o forró, o
gospel. Já pensou esse mix ao mesmo tempo? Eles se entendem e são
muito felizes assim, acredite!